"90% dos casos são curáveis nos estágios iniciais da doença", disse o especialista
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre), 61 casos de Câncer de Próstata foram notificados em todo o Acre até o final do ano de 2017, intensificando os mecanismos de intervenção nas redes de saúde do Acre.
Na tentativa de combater a doença que atinge 1 a cada 9 homens em todo o Brasil, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Novembro Azul trabalha na conscientização do problema que pode levar a morte, bem como sua prevenção e tratamento.
Esse movimento começou em 2003, na Austrália, aproveitando as comemorações do Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, celebrado no dia 17 de novembro.
No Brasil, a campanha chegou por intermédio do Instituto Lado a Lado pela Vida a fim de vencer o preconceito pelo lado dos homens, com relação ao exame de toque
O câncer de próstata ocorre principalmente em homens mais velhos. Cerca de 6 em cada 10 casos são diagnosticados em homens com mais de 65 anos, sendo raro antes dos 40 anos. A média de idade no momento do diagnóstico é de 66 anos.
Em entrevista concedida ao ContilNet, o médico urologista e cirurgião acreano, Etore Andrade, explicou o tipo de câncer, abordou os sintomas principais e os fatores de risco relacionados ao diagnóstico, da mesma maneira que enfatizou a importância do tratamento e a quebra do preconceito que há sobre os exames necessários para prevenção.
Andrade é formado em Urologia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)/Hospital de Base de São José do Rio Preto, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, atua como Urologista no Hospital das Clínicas do Acre e na UroClin, com ênfase em uro-oncologia, endourologia, transplante renal e videolaparoscopia, além de ter experiência nas áreas de disfunção miccional, uroginecologia, uroneurologia, andrologia, disfunção erétil, infertilidade, ejaculação precoce, hiperplasia benigna da próstata. Cirurgião Geral pelo Hospital das Clínicas do Acre (FUNDHACRE) e e graduado em Medicina pela Universidade Federal do Acre (UFAC).
Etore Andrade é urologista/Foto: Reprodução
Confira na íntegra a entrevista:
ContilNet: O que é Câncer de próstata e quais os fatores de risco?
O Câncer de próstata é a neoplasia maligna da próstata, que surge a partir de uma proliferação desordenada de células com mutações no DNA que as tornam “imortais”. A partir daí essas células se multiplicam formando um nódulo (câncer) que cresce de maneira rápida e desorganizada podendo se espalhar para o restante do corpo (metástases) e invadir órgãos adjacentes.
Quais os sintomas principais do Câncer de próstata e quando é necessário procurar um profissional?
O tumor da próstata é assintomático nos estágios iniciais da doença, os sintomas se dão geralmente quando a doença já está em estágios avançados, como, por exemplo, dor na coluna lombar e nos ossos da bacia secundária às metástases ósseas ou até mesmo dificuldade para urinar e sangramento urinário. Daí a necessidade de fazer um acompanhamento rotineiro com seu urologista no mínimo desde os 45 anos.
Como se dá o rastreamento e diagnóstico da doença?
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) preconiza que o rastreio para câncer de próstata deve começar aos 50 anos para pacientes sem fatores de risco para a doença e aos 45 anos para os pacientes que tem fatores de risco, que são:
– Pai, irmão ou avô com câncer de próstata;
– Pacientes negros;
O rastreio é realizado através da dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA) no sangue associado ao exame digital da próstata (vulgo toque da próstata). Caso algum desses exames esteja alterado pode ser necessário, a critério do urologista, realizar uma biópsia da próstata para diagnóstico definitivo da doença.
Quais os métodos utilizados no tratamento e qual o prognóstico?
Primeiramente é importante salientar que 90% dos casos são curáveis nos estágios iniciais da doença. Como forma de tratamento curativo podemos lançar mão da cirurgia, que pode ser aberta, videolaparoscópica e até mesmo robótica. A outra opção curativa é a radioterapia. Em casos de doença localmente avançada pode ser necessário realizar tanto a cirurgia quanto a radioterapia.
Existem outras opções para o tratamento da doença em estágios avançados, quando não é mais possível curá-la, como a hormonioterapia e a quimioterapia.
É necessário tomar quais cuidados como prevenção?
Hábitos de vida saudáveis, dieta pobre em gordura, rica em fibras, vegetais, alimentação balanceada, prática de atividade física regular são essenciais para prevenir a maioria dos cânceres. Não existem cuidados específicos para a prevenção do câncer de próstata. O segredo está no diagnóstico precoce que maximiza a chance de cura da doença.
Se algum parente próximo teve a doença, é possível que outros da família desenvolvam, como fator hereditário?
Sim, como dito anteriormente são fatores de risco:
– Avô, pai ou irmão com câncer de próstata;
-Mãe ou irmã com câncer de mama;
Esses pacientes devem começar o rastreamento da doença aos 45 anos de idade.
Quais os principais desafios encontrados pelo profissional e também por quem é tratado, durante o processo?
Os desafios são inúmeros, é necessária uma equipe multidisciplinar (Urologista, Oncologista Clínico, Radioterapeuta, Psicólogo, Fisioterapeuta, Nutricionista, Assistente Social, entre outros) preparada para lidar com o paciente como pessoa, não somente tratar a doença diagnosticada.
A partir do momento que você cria um vínculo forte e uma boa relação médico-paciente na qual o doente acredita em você e o profissional acredita e toma providências para uma boa evolução do caso,tudo fica menos difícil. O tratamento tem possíveis efeitos colaterais com incontinência urinária, impotência sexual, cistite e retite actínicas. Certamente a maior dificuldade está em conseguir explicar ao seu paciente o problema que ele tem e encorajá-lo a encarar a doença de frente sabendo da gravidade do problema, porém enfatizando que dificilmente está doença o levará a morte caso seja tratada adequadamente.
O que você tem a dizer a respeito dos estereótipos formados com relação ao exame digital da próstata e a “crítica à masculinidade”?
Acredito que o principal interessado num diagnóstico precoce e preciso é o paciente e o preconceito com relação ao exame digital da próstata tem diminuído consideravelmente nos últimos anos, haja vista que é um exame rápido, indolor e realizado uma vez por ano. Na minha prática clínica diária é raríssimo um paciente recusar o exame digital da próstata após uma exposição adequada da importância do exame já que ele é indispensável e insubstituível.
Como considera o cenário de diagnósticos e tratamentos no Acre?
As principais modalidades de diagnóstico e tratamento estão disponíveis em nosso estado sendo que o paciente tem condições de ter um acompanhamento adequado tanto no sistema público quanto no sistema privado de saúde. O importante é realmente se certificar que esteja sendo acompanhado por um profissional capacitado e comprometido com o paciente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário