Eu deveria escrever sobre isso quando os meus cabelos estivessem poucos e brancos. Mas aos 43 anos não sei dizer até quando minha memória guardará cristalinamente aquilo que ainda não esqueci até hoje:
Do som de um tambor de couro de boi enfeitado com bandeirolas, tocado na cadência certa no desfile de 24 de abril e 7 de Setembro na minha querida cidade de Tarauacá, trajando calça azul e blusa branca de tergal e calçando um conguinha. A cadência do desfile era entoada ao som do apito do meu amigo Juracy Mezer (Mano).
Do cheiro de querosene queimando numa lamparina quando a luz apagava as 22h.
Das cores dos papéis de embrulho ou de jornais com os quais encapávamos nossos cadernos e livros na extinta escola Omar Sabino de Paula.
Da embalagem da sandália havaiana, que era uma sacolinha; Da bolacha e do macarrão PAPAGUARA, com um índio fantasiado com seu belo cocar.
Da emoção de calçar um KICHUTE, um CONGA, um BAMBA, um REDLEY ou um DAYTONA pela primeira vez. Do cuidado que se tinha com o Kichute para não gastar as travas e os bidongos no cimento da quadra de futsal da escola João Ribeiro e da Rosaura Mourão da Rocha.
Algumas marcas desapareceram e outras venceram o tempo e embora tenham sofrido mudanças, ainda estão por aí. Dentre tantas, recordo principalmente:
Da lata de aveia QUAKER, com aquela figura de chapéu e cabelos brancos, que não conseguíamos definir o sexo;
Das lâminas de barbear da GILLETE e da WILKHINSON;
Da latinha de FERMENTO ROYAL;
Das latas de LEITE MOÇA, CAMPO VERDE, MOCOCA e NINHO;
Do creme dental KOLYNOS;
Do talco TABU;
De minha mãe que lavava roupas usando umas barras de sabão de aproximadamente 30cm e batia a roupa com um pedaço de pau para afrouxar o sujo apoiada numa tábua na beira do rio;
Das latas grandes que eu enchia de água do rio, ali em frente à antiga serraria do seu Otávio (in memorian), e carregava dependuradas num pedaço de pau apoiado horizontalmente sobre os ombros, pra encher o camburão e o pote lá de casa, pois água encanada não tinha;
Das vezes que eu ia cedinho comprar leite lá em frente à casa do seu Rames Eleamen, e às vezes voltava com a leiteira vazia porque o leite não dava pra todo mundo;
Das vezes que chegava às carreiras da escola João Ribeiro pra ir jogar bola no campo que ficava atrás da casa da Dona Eulina;
Das vezes que ia jogar vôlei num campinho que ficava em frente à minha casa, onde funcionou a serraria do seu Otávio, se divertindo com as CUIADAS do meu velho pai (Zé Neri) e dos gritos do Tio Daniel;
Da cera CACHOPA utilizada para encerar o assoalho usando um saco de estopa, puxando e sendo puxado pelo meu irmão;
Do MIMEOGRÁFO e do PAPEL HECTOGRÁFICO (chamado de estêncil) que era uma revolução na produção cópias, e que muitas vezes eu pegava cópias de prova no camburão de lixo que ficava em frente à escola João Ribeiro;
Do perfume de ALFAZEMA, com aquela moça carregando um tabuleiro de flores num belo campo florido e do perfume CONTOURÉ;
Do óleo azul SINAMON que fazia os cabelos ficarem “sentadinhos”, quando eu ia pro vesperal lá no Clube do Tinha aos domingos;
Do perfume AVANÇO que era o mais conhecido dos EXRATOS;
Dos tecidos de TERGAL, BRIM, TERBRIM, ESTOPA, VOLTA-AO-MUNDO, CHITA, CHITAO, LINHO e MURIM;
Do fósforo FIAT LUX, OLHO, PINHEIRO e ARGOS, (do palito chato), que muitos partiam ao meio dobrando o número de palitos para 80;
Do papeiro, da chaleira e de um coador de café que não faltavam na cozinha;
Da pitisqueira que na frente tinha um pedaço de pano ou plástico para proteger os utensílios de cosinhas;
Das marcas de cigarros ARIZONA, CONTINENTAL, MINISTER, PLAZA, PARLIAMENT, BELMONT (eu que catava e colecionava essas carteiras);
Da goma de mascar CHICLETS, PING-PONG e PLOC;
Do KI-SUCO;
Do tênis REDLEY, BAMBA e DAYTONA;
Da linha de costura ZEBRA, que utilizávamos para soltar papagaios;
Da máquina de costura ELGIN, SINGER ou VIGORELI;
Da eletrola ROUXINOL, do rádio ELETRONIC ou SEMP utilizados com pilhas RAYOVAC e EVEREADY (a pilha do gato);
Das canoas tocada a motores CLINTON, BRIGS STRATTON, (burro-preto), MONTGOMERY, TIETÊ e YANMAR.
Emoções de uma época inesquecível.
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