Publicitária de 25 anos ensina técnicas por videoconferência, ideia que surgiu como adaptação às medidas de isolamento social.
Um sofá, um aparelho eletrônico com aplicativo de videoconferência e poucas peças de roupa. Isso é tudo que as alunas da publicitária santista Ingrid Astasio, de 25 anos, precisam para fazer aulas de striptease em casa. Com a mudança de rotina imposta pela quarentena, essa foi a saída que Ingrid encontrou para manter a fonte de renda que antes vinha das aulas presenciais.
A publicitária se divide entre seu emprego, agora em regime de home office, como estrategista de conteúdo em uma multinacional, e as aulas de pole dance. Toda sexta-feira à noite, ela reúne cerca de 20 mulheres por meio de um aplicativo de videoconferências.
Embora as aulas não sejam direcionadas exclusivamente ao público feminino, ainda não apareceram homens interessados. Ingrid conta que um rapaz se inscreveu para aprender os princípios do striptease, mas acabou desistindo na última hora. "Ele pensou que as meninas achariam ele um tarado”, afirma. “Mas todos são bem-vindos na aula. Heteros, trans e homossexuais que não se importem de performar a feminilidade, já que não trago movimentos masculinizados".
As aulas de striptease têm uma hora de duração e são todas criadas por Ingrid e promovidas pelo estúdio de pole dance para o qual ela trabalha, um dos mais conhecidos de São Paulo. A publicitária diz que repassa o conhecimento adquirido em cursos de elementos eróticos e imersão em sensualidade. Em breve, ela pretende introduzir exercícios de pompoarismo, que visam o fortalecimento da musculatura vaginal.
Para Yasmyn Lopes, de Porto Alegre, aulas online eliminaram o problema da distância — Foto: Arquivo pessoal
"Eu estudo música, movimento e anatomia para passar um aquecimento qualificado", conta Ingrid sobre a montagem das aulas. É um tempo que ela classifica também como uma ocupação para não se sentir tão sozinha durante o período de isolamento social, já que está isolada em seu apartamento na capital paulista.
A procura pelo curso, segundo Ingrid Astasio, tem sido satisfatória. Os rostos nas vídeoaulas variam de semana para semana, já que não há uma turma fixa. As aulas podem ser avulsas, pelo valor de R$ 35 cada, ou mais baratas, por pacote. A professora explica que o público costuma ser fiel, e o retorno das alunas é sempre positivo. "Elas dizem que se sentem grandes gostosas", brinca.
Quando as medidas preventivas ao novo coronavírus entraram em vigor em São Paulo e forçaram o fechamento de serviços não essenciais, Ingrid começou a imaginar como continuaria dando suas aulas de pole dance online. Como uma barra em casa não é algo que todo aluno tem, ela não achou rentável insistir nas instruções por videoconferência.
"Foi aí que eu pensei, por que não striptease no sofá? Também tinha a possibilidade de ser chairdance, uma dança sensual na cadeira, mas no sofá eu teria mais espaço para explorar e é algo que quase todo mundo tem em casa”, ponderou. “Faz parte da residência das pessoas. Por que não usar de outra maneira e tornar a quarentena uma experiência diferente?".
Autoestima, sedução e ‘nudes’
Ingrid diz que prefere deixar a hipocrisia de lado ao falar do intuito de ensinar mulheres a fazer striptease. Além de desenvolver a autoestima das alunas, ela lembra que se tornou comum, durante a pandemia, o compartilhamento de nudes e vídeos íntimos. A aula também é uma forma de manter ativa essa prática. “Sempre começo com exercícios que trabalhem o amor próprio. É preciso explorar a própria sensualidade, antes de querer seduzir alguém. A sedução exige isso. Você nunca vai seduzir alguém se não se sentir sedutora, ou sedutor", argumenta.
E é assim que mulheres que fazem a aula afirmam se sentir. Como no caso da gerente administrativa Yasmyn Lopes, de 32 anos. Ela é de Porto Alegre e conheceu Ingrid pelas redes sociais por conta do pole dance. Pela distância, não tinha como fazer uma aula presencial. Ela comenta que Ingrid faz as alunas se sentirem confiantes e valorizadas. "Me sinto um mulherão", afirma.
As aulas de striptease, agora, são motivo para que Yasmyn passe a semana ansiosa para que chegue logo a sexta-feira. Ela apimenta um relacionamento a distância usando técnicas aprendidas nas aulas. "Resolvi filmar uma das aulas e mandar para o boy, que está em São Paulo. Ele ia mudar para cá no fim de março, mas o voo foi cancelado e a data, adiada. Então, eu o seduzo por vídeos mesmo. É o que resta".
Outra aluna assídua é a psicóloga paulistana Juliana Siracuza, de 35 anos. O que a levou ao striptease foi a possibilidade de conhecer ainda mais o próprio corpo. Para ela, não há nada mais libertador do que isso. "A Ingrid tem um jeitinho único de nos ajudar a resgatar a relação saudável que precisamos ter com nosso corpo real, com o corpo que temos. Isso é fundamental, já que sofremos demais com todos os padrões, papéis e expectativas que depositam em nós mulheres", diz Juliana.
Ela afirma que não começou a aprender técnicas de striptease com a intenção de seduzir alguém, mas que foi algo que despertou com as aulas. "A sedução é um caminho sem volta".
Além do striptease, Ingrid Astasio continuou a dar aulas online de twerk, um estilo de dança no qual a maior parte dos movimentos se concentra nos quadris. Ela diz que alunos de outros países, como Estados Unidos, Alemanha e França, se matricularam depois de terem visto vídeos em redes sociais, onde divulga seu trabalho.
G1.
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